Descrição: Pintura a óleo sobre tela retangular, encaixilhada em bite de madeira escura e colada na parede.
Composição pictórica concebida em manchas largas e em tons de ocre, rosa claro, cinzento, sépia, preto, branco, azul esverdeado e vermelho, recriando um cenário com céu nebulado, que ocupa quase toda a metade superior da tela, e um murete com degraus, onde estão retratadas 4 figuras masculinas de corpo inteiro, em poses estáticas. Da esquerda para a direita:
- O Conde de Castelo Melhor apresenta-se de pé, de frente para o espectador, voltado a três quartos para a esquerda, olhando para a direita. Tem cabelo pela altura dos ombros, de cor escura, ligeiramente ondulado e apartado ao meio, bigode e mosca, olhos bem abertos, lábios finos e cerrados e expressão severa. Traja à cavaleiro, com calças metidas nas botas altas e faixa ocre cruzada no peito.
- D. Luís da Cunha apresenta-se sentado, de frente para o espectador, em posição frontal, ligeiramente inclinado para a esquerda e olhando a três quartos nessa direção. Tem peruca pela altura dos ombros, de cor branca, ondulada e apartada ao meio, rosto glabro, olhos amendoados, lábios carnudos e esboçando leve sorriso e expressão afável. Está envolto em longo mato de cor sépia, vendo-se-lhe parte do lenço ao pescoço, o punho da camisa, as bragas azuis esverdeadas, as meias pelo joelho e os sapatos com laços. Na sua mão direita segura um livro.
- O Marquês de Pombal apresenta-se de pé, de frente para o espectador e olhando diretamente para este, mas está voltado a três quartos para a direita. Tem peruca pela altura dos ombros, de cor cinzenta, ondulada e apartada ao meio, rosto glabro, olhos amendoados, lábios carnudos e esboçando leve sorriso e expressão altiva. Enverga terno de cor sépia, com lenço ao pescoço, meias pelo joelho e sapatos com larga fivela. Na sua mão esquerda segura chapéu luvas brancas e bastão.
- José Seabra da Silva apresenta-se de pé, de frente para o espectador voltado a três quartos para a esquerda, apoiado no seu braço direito sobre o murete e olhando nessa direção. Tem peruca pela altura do lóbulo da orelha, de cor cinzenta, enrolada nos lados e apartada ao meio, bigode fino, olhos redondos e abertos, lábios finos e cerrados e expressão séria. Enverga terno de cor cinzenta, com lenço ao pescoço, meias pelo joelho e sapatos com larga fivela. Na sua mão esquerda segura chapéu.
Tem assinatura no canto inferior direito: «Columbano».
Origem/Historial: Informações sobre a encomenda, a execução e o pagamento dos painéis:*
«Em Setembro - 1920, deliberou a Comissão Administrativa [da Câmara dos Deputados] convidar o pintor Columbano Bordalo Pinheiro a apresentar o esbôço e orçamento de dois grandes quadros para a Sala dos Passos Perdidos da Câmara dos Deputados, que esta Comissão desejaria que estivessem colocados no próximo mês de Maio - 1921, por ocasião do Congresso Internacional do Comércio [cf. Acta 56]. Só em janeiro - 1921, mestre Columbano fixou o preço de trinta contos pagos em tres prestações [cf. Acta 71] recebendo logo a primeira de dez contos. Na acta da reunião de 17 de agosto resolveu-se oficiar a Columbano para apressar o trabalho que devia ter sido entregue até 24 - maio desse ano. [cf. Acta 3]. Decorreu o tempo até 13 - agosto - 1925 quando o artista escreveu alegando que por motivo de difícil execução o trabalho demorou e dada a desvalorização da moeda pede uma indemnização. Columbano orçou a obra na totalidade de cinquenta contos [cf. Acta 20, de outubro - 1925] vindo a receber o saldo do Ministério das Finanças.
Aquele esboço apresentado e talvez até os estudos - dado o valor da compensação - parece que deviam ficar pertencendo à entidade que os encomendara. Tal não aconteceu, pois os seis debuxos dos painéis e «os vinte e dois desenhos que constituem uma valiosa galeria de figuras notáveis da História de Portugal, desde o rei lavrador até ao tribuno José Estevão estão na sala Columbano do Museu Regional Grão-Vasco, em Viseu, e são os estudos dos dois trípticos da Sala dos Passos Perdidos da Câmara dos Deputados», conforme se lê no Catálogo do citado museu, em edição de 1935 [pgs. 8 e 10].
Estas telas representam:
1ª - rei Dom Diniz, João das Regras, Rei Dom João 2º
2ª - Febo Moniz, Padre António Vieira, Dom Luiz de Menezes e João Pinto Ribeiro
3ª - Conde de Castelo Melhor, Dom Luiz da Cunha, Marquez de Pombal e José Seabra da Silva
4ª - Manuel Fernandes Tomas, Manuel Borges Carneiro, Joaquim A. de Aguiar
5ª - Mousinho da Silveira, Duque de Palmela, José da Silva Carvalho, Marechal Saldanha
6ª - Manuel da Silva Passos [Passos Manuel], Alexandre Herculano, Visconde de Almeida Garrett e José Estevão Coelho de Magalhães.
«Mestre Columbano nunca concluiu os retoques destas telas, o que muito se nota na primeira e na quarta. É interessante diser o motivo: Manhã cedo o artista, tendo as telas coladas, alí comparecia acompanhado do pintor Benvindo Ceia. Fechados os reposteiros dos extremos da sala, recomendava Columbano ao colega que ali não fosse qualquer pessoa, e começava o labor. Mal ouvia passos dizia: «- anda aí gente?» Ceia, respondia-lhe: «- são as mulheres que fasem a limpesa, que passaram no corredor.» Columbano suspendia imediatamente o trabalho, e retirava-se. repetiu-se a cena vários dias até aquele em que comunicou a Benvindo Ceia dar o trabalho por concluído. E assim ficou imperfeita a obra do eminente artista.»
* in NEVES, António Álvaro G. Soares - , in Catálogo do Museu Histórico-Bibliográfico privativo da Assembleia Nacional, p. 9-11 (Cota: AHP - Reg. 1945, Sec. XXII, Cx. 1, N.º 11).
Incorporação: Encomenda ao autor
Bibliografia
AFONSO, Simonetta Luz; MOURÃO, Cátia e SILVA, Raquel Henriques da - Os Espaços do Parlamento - da Livraria das Necessidades ao Andar Nobre do Palácio das Cortes (1821-1903). Lisboa: Assembleia da República, 2003
FRANÇA, José-Augusto - O Palácio de S. Bento. Lisboa: Assembleia da República, 2000
LEITÃO, Joaquim - O Palácio de São Bento. Lisboa: Assembleia Nacional, 1945, p. 82.
NEVES, António Álvaro G. Soares - Catálogo do Museu Histórico-Bibliográfico privativo da Assembleia Nacional. Lisboa: Assembleia Nacional, Policopiado, 1940-1941
ELIAS, Margarida - A Recepção Crítica de Columbano Bordalo Pinheiro (1857-1987), dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 2002.
ELIAS, Margarida - Columbano no seu Tempo (1857-1929), tese de Doutoramento apresentada à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 2011.